Equação de Cahn-Hilliard
Grupo: Arthur Dornelles, Bruno Zanette, Gabriel De David e Guilherme Hoss
O objetivo deste trabalho é resolver computacionalmente a equação de Cahn-Hilliard, que descreve o processo de decomposição espinodal de uma mistura binária, utilizando o método FTCS (Forward Time Centered Space).
Decomposição Espinodal
Decomposição espinodal é o nome dado ao processo no qual uma pequena perturbação de um sistema faz com que, uma fase homogênea termodinamicamente instável, diminua sua energia e separe-se espontaneamente em duas outras fases coexistentes, esse é um processo que ocorre sem nucleação, ou seja, é instantâneo. Ela é observada, por exemplo, em misturas de metais ou polímeros e pode ser modelada pela equação de Cahn-Hilliard.
A Equação de Cahn-Hilliard
Como dito previamente, a equação de Cahn-Hilliard descreve o processo de decomposição espinodal de uma mistura binária. Com o intuito de deduzirmos essa equação, consideraremos - de início - uma mistura binária de dois componentes A e B descritas pelas concentrações dos fluidos e , respectivamente. [1]
Além disso, podemos considerar que - para uma mistura binária - e portanto podemos simplificar para apenas uma concentração :
Tendo isso em vista, podemos agora utilizar a primeira lei de Fick da difusão:
juntamente da equação da continuidade:
Onde é o coeficiente de difusão e é a difusão da mistura. Em seguida, ao combinarmos ambas as equações anteriores o resultado gera a segunda lei de Fick da difusão:
A partir dessa equação - como não há a existência de um gradiente de concentração espacial - pode-se esperar que não ocorra mudança na concentração da mistura. No entanto, observa-se que quando a separação de fases ocorre, a difusão demonstra ser contrária ao gradiente de concentração, o que não condiz com a equação anterior.
Tendo isso em vista, conclui-se que a concentração não pode ser a razão da difusão, portanto outra força deve estar presente. E, nesse caso, encontrou-se que a principal força responsável pela difusão negativa é o potencial químico de acordo com (Cahn e Hilliard, 1958). Portanto, outra equação pode ser derivada para generalizar a primeira lei de Fick:
Onde é a mobilidade das partículas (análoga à D) e é o potencial químico. Com essa nova equação podemos agora também deduzir uma nova equação para a segunda lei de Fick:
Nessa equação, podemos usar a definição do potencial químico através da densidade da energia livre de Gibbs como:
Onde é a densidade da energia livre de Gibbs e é a concentração.
Tendo em vista a substituição do termo por um termo que envolva a concentração dos fluidos, utiliza-se uma equação que descreve a densidade de energia desse sistema através da concentração dos mesmos (derivado em Cahn e Hilliard, 1958):
Nesse caso, é a energia livre de Gibbs, é a densidade de energia livre devido à contribuições de ambas as fases homogêneas e é a densidade de energia livre devido ao gradiente de concentração na interface (ou energia de interface).
Além disso, a função tem o formato de um poço de potencial duplo, que pode ser representado pela seguinte equação:
Levando essas informações em conta e - utilizando um parâmetro análogo à largura da interface - que é descrito por é possível encontrar uma equação que descreve a densidade de energia livre de Gibbs para um sistema duplo-fásico:
Com essas igualdades agora se torna possível o cálculo de em função da concentração dos fluidos:
Finalmente - utilizando a última expressão encontrada - torna-se possível reescrever o potencial químico em função da mobilidade de suas partículas () e a concentração do fluido:
Essa equação final é chamada de equação de Cahn-Hilliard. A equação dependente da difusão é análoga e também funcional:
Método FTCS (Forward Time Centered Space)
O FTCS é um método numérico utilizado para resolver equações diferenciais parciais, tais como a difusão do calor e do transporte de massa, traduzindo, significa "Progressivo no tempo, avançado no espaço". Uma das formas que o método pode ser utilizado é a forma explícita que está descritas abaixo.
FTCS Explicito
Para difusão:
Resolução da equação de Cahn-Hilliard para FTCS explicito somente para x
Condição de Estabilidade
A estabilidade dessa equação mostra-se muito mais complicada de se estipular por ela ser uma equação diferencial de quarta ordem se comparada a equação de difusão, Portanto só iremos analisar a seção 3.3 (Experimental and theoretical stability conditions) do artigo Numerical methods for the implentation of the Cahn-Hilliard equation in one dimension and a dynamic boundary condition in two dimensions [1].
Após a linearização e aplicação do teorema de Gershgorin temos que a condição para estabilidade da equação linear para é:
Importante atentar que essa é a condição de estabilidade somente para a equação de Cahn-Hilliard linearizada, não para a original. Tanto que a literatura sobre a equação propõem que , que é o que acontece na condição estabilidade linear quando .
O artigo compara os dados experimentais de estabilidade com a estabilidade da equação linearizada relacionado na seção 3.3.4 e conclui que para valores de a condição teórica encontrada a partir da linearização é uma boa aproximação.
Resultados
Com o intuito de testar o comportamento da equação, comparamos os resultados para os coeficientes de difusão 1, 0.1, 0.01 e 0.001 e analisamos seus gráficos.
Nos gráficos, é possível observar que quanto maior o coeficiente de difusão maior é a velocidade em que a mistura atinge a estabilidade. Além disso, vemos que valores baixos de t produzem soluções mais íngremes que valores altos de t.
Discussão de Resultados
Uma propriedade observada no gráfico 1 é a de que os valores das soluções obtidas utilizando o método FTCS excedem os valores máximos e mínimos permitidos ( C=1 e C=-1), se estivesse modelando uma situação real isso iria contra a lei de conservação de massa, o que pode ocasionar erros nos resultados que exigem uma grande precisão.
O método FTCS explícito limita-se por causa da condição de estabilidade, por isso esse método não é recomendado para modelos com alto . Para tais modelos, o método FTCS implícito é mais recomendado por ser incondicionalmente estável.
Implementção
def vector_declaration(L,dx):
c = [[],[]] # vetor concentração
espaco = []
# Condições iniciais
for i in range(int(L/dx)+4):##+4 pois usaremos dois valores antes e depois do ultimo elemento do vetor c
if (i<1/2*L/dx+2):
c[0].append(-1)
c[1].append(-1)
else:
c[0].append(1)
c[1].append(1)
espaco.append(round(i/150,3))
return c, espaco
def CH_equation(gamma, D, dx, dt, L, TEMPO_MAX): # resolução numérica da equação
c, espaco = vector_declaration(L, dx)
i = 0
for time in [t*dt/TEMPO_MAX for t in range(int(TEMPO_MAX/dt))]:
for l in range(2,len(c[1][2:-2])):
c1 = c[i][l-1]**3 - 2*c[i][l]**3 + c[i][l+1]**3
c2 = -c[i][l-1] + 2*c[i][l] - c[i][l+1]
c3 = c[i][l-2] -4*c[i][l-1] + 6*c[i][l] - 4*c[i][l+1] + c[i][l+2]
c[1-i][l] = D*dt/(dx**2)*(c1+c2-gamma**2*c3/(dx**2)) + c[i][l]
i = 1-i
return(espaco[2:-2],c[1-i][2:-2]) ##retirando os elementos a mais do vetor
tempo=1
tamanho=1/3.5
Difuse= 1
gamma=3.4*1/128
dt=1/500000
dx = 1/128
figure, axis = plt.subplots(2, 2)
plt.figure(dpi=500)
axis[0, 0].plot(*CH_equation(gamma, Difuse, dx, dt, tamanho, tempo/100000), label = "tempo: " + str(tempo/100000))
axis[0, 0].plot(*CH_equation(gamma, Difuse, dx, dt, tamanho, tempo/10000), label = "tempo: " + str(tempo/10000))
axis[0, 0].plot(*CH_equation(gamma, Difuse, dx, dt, tamanho, tempo/1000), label = "tempo: " + str(tempo/1000))
axis[0, 0].plot(*CH_equation(gamma, Difuse, dx, dt, tamanho, tempo/100), label = "tempo: " + str(tempo/100))
axis[0, 0].plot(*CH_equation(gamma, Difuse, dx, dt, tamanho, tempo/10), label = "tempo: " + str(tempo/10))
axis[0, 0].legend(loc="upper left", prop={'size': 6})
axis[0, 1].plot(*CH_equation(gamma, Difuse/10, dx, dt, tamanho, tempo/100000), label = "tempo: " + str(tempo/100000))
axis[0, 1].plot(*CH_equation(gamma, Difuse/10, dx, dt, tamanho, tempo/10000), label = "tempo: " + str(tempo/10000))
axis[0, 1].plot(*CH_equation(gamma, Difuse/10, dx, dt, tamanho, tempo/1000), label = "tempo: " + str(tempo/1000))
axis[0, 1].plot(*CH_equation(gamma, Difuse/10, dx, dt, tamanho, tempo/100), label = "tempo: " + str(tempo/100))
axis[0, 1].plot(*CH_equation(gamma, Difuse/10, dx, dt, tamanho, tempo/10), label = "tempo: " + str(tempo/10))
axis[0, 1].legend(loc="upper left", prop={'size': 6})
axis[1, 0].plot(*CH_equation(gamma, Difuse/100, dx, dt, tamanho, tempo/100000), label = "tempo: " + str(tempo/100000))
axis[1, 0].plot(*CH_equation(gamma, Difuse/100, dx, dt, tamanho, tempo/10000), label = "tempo: " + str(tempo/10000))
axis[1, 0].plot(*CH_equation(gamma, Difuse/100, dx, dt, tamanho, tempo/1000), label = "tempo: " + str(tempo/1000))
axis[1, 0].plot(*CH_equation(gamma, Difuse/100, dx, dt, tamanho, tempo/100), label = "tempo: " + str(tempo/100))
axis[1, 0].plot(*CH_equation(gamma, Difuse/100, dx, dt, tamanho, tempo/10), label = "tempo: " + str(tempo/10))
axis[1, 0].legend(loc="upper left", prop={'size': 6})
axis[1, 1].plot(*CH_equation(gamma, Difuse/1000, dx, dt, tamanho, tempo/100000), label = "tempo: " + str(tempo/100000))
axis[1, 1].plot(*CH_equation(gamma, Difuse/1000, dx, dt, tamanho, tempo/10000), label = "tempo: " + str(tempo/10000))
axis[1, 1].plot(*CH_equation(gamma, Difuse/1000, dx, dt, tamanho, tempo/1000), label = "tempo: " + str(tempo/1000))
axis[1, 1].plot(*CH_equation(gamma, Difuse/1000, dx, dt, tamanho, tempo/100), label = "tempo: " + str(tempo/100))
axis[1, 1].plot(*CH_equation(gamma, Difuse/1000, dx, dt, tamanho, tempo/10), label = "tempo: " + str(tempo/10))
axis[1, 1].legend(loc="upper left", prop={'size': 6})
plt.show()
plt.savefig('graficosDIFUSAO.png', dpi=500)
Referências
[1] SIBBING, Zimo. Numerical methods for the implentation of the Cahn-Hilliard equation in one dimension and a dynamic boundary condition in two dimensions, tese de bacharelado, 2015.
[2] MARKUS, Wilczek. The Cahn-Hilliard Equation, 2015.
[3] CAHN, John W.; HILLIARD, John E. Free Energy of a Nonuniform System. I. Interfacial Free Energy. The Journal of Chemical Physics, 1958.
[4] https://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_de_Fick