Modelo de Keller-Segel para relação população-economia: mudanças entre as edições

De Física Computacional
Ir para navegação Ir para pesquisar
Linha 184: Linha 184:
Sob a perspectiva de testar a formação de clusters de população, foi criada uma rede completamente aleatória, sem nenhum viés, seja populacional ou econômico. Para isto, tanto população quanto renda possuem valores aleatórios para <math> t = 0 </math>
Sob a perspectiva de testar a formação de clusters de população, foi criada uma rede completamente aleatória, sem nenhum viés, seja populacional ou econômico. Para isto, tanto população quanto renda possuem valores aleatórios para <math> t = 0 </math>


[[Arquivo:random_population.png|1000px|thumb|center|Resultados da simulação para rede iniciada com população e renda aleatórias em t = 0.]]
[[Arquivo:Random population.png|thumb|1000px|center|Resultados da simulação para rede iniciada com população e renda aleatórias em t = 0.]]


Enquanto que a primeira coluna de gráficos mostra o estado inicial caótico do sistema, a segunda coluna (t = 9.9) indica exatamente o esperado: 5 clusters bem visíveis são formados para a população. Nota-se, entretanto, que os mesmos 5 picos não são tão visíveis no gráfico de rendas. Uma explicação para isto seria que, mais uma vez, com os valores de desvio padrão da distribuição mais elevados, um pico acaba se sobrepondo a outro, tornando as distribuições difícies de se distinguir.
Enquanto que a primeira coluna de gráficos mostra o estado inicial caótico do sistema, a segunda coluna (t = 9.9) indica exatamente o esperado: 5 clusters bem visíveis são formados para a população. Nota-se, entretanto, que os mesmos 5 picos não são tão visíveis no gráfico de rendas. Uma explicação para isto seria que, mais uma vez, com os valores de desvio padrão da distribuição mais elevados, um pico acaba se sobrepondo a outro, tornando as distribuições difícies de se distinguir.

Edição das 23h33min de 28 de março de 2021

Grupo: Leonardo Barcelos, Luana Bianchi e Rubens Borrasca

O objetivo deste trabalho é implementar o modelo de Keller-Segel, que originalmente descreve chemotaxis: movimento de organismo em direção ou contra algum sinal químico, para um sistema englobando população e atividade econômica. O método computacional utilizado para resolver o problema e implementar o modelo foi o FTCS (Forward Time Centered Space).

Modelo de Keller-Segel

Proposto por Evelyn Fox Keller, física norte-americana, e Lee Aaron Segel, matemático também norte-americano, o modelo de Keller-Segel foi historicamente utilizado para descrever o movimento de bactérias. Introduzido primeiramente em 1970 para descrever a agregação de uma espécie de bolor limoso (ou slime mold) ameboide, Dictyostelium discoideum, o modelo se tornou um dos mais usados nos estudos biológicos-matemáticos. As células deste slime mold se comportam como amoebas individuais, e se alimentam de bactérias, mas quando a quantidade de comida fica pequena, elas se difundem pelo espaço e então se agregam em formato mais alongado, como o formato das lesmas, para uma migração de longa distância. Keller e Segel desenvolveram um modelo matemático para o processo de agregação, em que a chemotaxis tem papel crítico na auto-ormanização das células.

Baseados no que já era conhecido sobre esses organismos, Keller e Segel utilizaram as seguintes premissas:

  • As células estão inicialmente distribuídas sobre o espaço de maneira mais ou menos homogênea, com algumas flutuações aleatótias;
  • As células apresentam chemotaxis em direção ao sinal químico denominado cAMP (cyclic adenosine monophosphate);
  • As células produzem moléculas cAMP;
  • As células e as moléculas cAMP difundem pelo espaço;
  • As células não morrem e não se dividem

De forma simplificada, ocultando alguns detalhes biológicos mais complicados a equação de Keller-Segel é a seguinte:

em que e são respectivamente as variáveis de estado para a concentração de células e a concentração de cMAP. é o parâmetro de mobilidade das células, é o parâmetro da chemotaxis celular, é a constante de difusão das moléculas cAMP, é a taxa de secreção de cMAP pelas células, e é a taxa de decaimento das moléculas cMAP.


Aplicação população-economia

De forma parecida com as premissas de Keller e Segel, os seguintes pontos são assumidos para modelar a relação entre a população e a atividade econômica:

  • A população não cresce e não decresce ao longo do tempo;
  • A economia é ativada por existir mais pessoas em uma região;
  • Sem pessoas a atividade econômica diminui;
  • População e atividade econômica difundem gradualmente;
  • As pessoas são atraídas por regiões com maior atividade econômica

Traduzindo estes pontos em equações matemáticas, se obtêm as seguintes equações:

em que representa a população e a atividade econômica. é a constante que determina a taxa de produção de atividade econômica per capita, é a constante da taxa de decaimento da atividade econômica, e são as constantes de difusão da população e da economia respectivamente, e é a constante que afeta a velocidade média do movimento da população.

Comparando o sistema obtido com o problema original de Keller-Segel, percebe-se que se trocarmos células por pessoas e cMAP por atividade econômica os problemas ficam iguais, e até se poderia denominar como moneytaxis a migração das pessoas em direção a atividade econômica, como a chemotaxis descreve o movimento das células em direção ao cAMP.

Método FTCS

O FTCS (Forward Time Centered Space, em tradução livre significa "avançado no tempo, centrado no espaço), é um método de discretização de Equações Diferenciais Parciais(EDP). Para a derivada temporal teremos,

e para a parte espacial,

onde é uma variável espacial qualquer e é o tempo.

Discretização do Modelo de Keller-Segel em 1D

Em 1D o sistema de equações diferenciais parciais será:

Agora utilizando a discretização FTCS teremos:

onde o sub-índice se refere à coordenada ; e o superíndice se refere ao tempo. Reorganizando as equações e agrupando alguns termos teremos:

onde os termos agrupados são: , , , ,

Discretização do Modelo de Keller-Segel em 2D

Em 2D o sistema de equações diferenciais parciais será:

Agora utilizando a discretização FTCS e assumindo que teremos:

onde os sub-índices e se referem às coordenadas e respectivamente; e o superíndice se refere ao tempo. Reorganizando as equações e agrupando alguns termos teremos:

Resultados

1D

Com o intuito de testar melhor a equação e suas consequências, os resultados foram divididos em várias simulações diferentes.

Para todas as simulações realizadas, exceto onde indicado, os parâmetros utilizados foram os seguintes:

Além disso, foram utilizadas condições periódicas de contorno (PBC) para a solução das equações diferenciais parciais. Deste modo, pode-se pensar no eixo x como uma "rosquinha", onde, considerando um sistema de tamanho , os pontos e estão conectados.

População e Dinheiro em pontos separados

Para esta simulação, considera-se que no tempo 0, toda a população está concentrada em 1 ponto , enquanto todo o dinheiro está em um outro ponto, distante deste, . Deste modo, temos as seguintes equações para as condições iniciais:

Na figura abaixo, consegue-se observar o resultado da construção do sistema desta maneira:

Resultados da simulação para o caso de população e dinheiro em pontos separados e distantes na malha

Com toda a população concentrada em 1 ponto (), a atividade econômica cresce consideravelmente neste intervalo ao longo do tempo. Em contrapartida, o local que continha todo o dinheiro no começo da simulação (), em pouco tempo tem a sua renda líquida migrada para onde tem uma densidade populacional maior. Essa tendência indica, portanto, que o sistema é construído de tal forma que a atração da população por regiões de alta renda líquida é menor que a atração do sistema monetário de seguir para pontos de alta densidade populacional.

Além disso, outra observação interessante é que nota-se para uma tendência inerente da densidade populacional em seguir uma distribuição de shape gaussiano sob a malha. Considerando que a equação que define o movimento populacional com o tempo contém um termo difusivo, e que a solução para uma difusão simples em 1 dimensão também assume um shape gaussiano, este resultado faz sentido. Mas uma coisa interessante é que, depois de se desfazer de seu formato inicial, o total de dinheiro sob a malha tende a seguir a distribuição populacional, porém com um desvio padrão maior (maior abertura na Gaussiana). Essa observação indica que, para centros econômicos (regiões com alto ) a tendência é que suas periferias também possuam valores altos de renda, apesar da população consideravelmente menor. Além disso, para regiões fora do contorno de centros econômicos (distância maior do que 3 vezes o desvio padrão da gaussiana) a atividade econômica é basicamente nula, assim como a densidade populacional. Este último fato descreve de forma genérica e simplista o comportamento atual observado em metrópoles nos dias de hoje: uma cidade grande possui alto número de habitantes, alta renda, seus contornos também apresentam atividade econômica forte (porém menor que o centro), mas para um raio suficientemente grande, tanto dinheiro quanto população caem exponencialmente.

População uniforme e sem dinheiro no sistema para t = 0

Nesta simulação, considera-se que, para t=0, não há dinheiro sob a malha. Deste modo, a equação que descreve o dinheiro no sistema ao longo do tempo pode ser escrita como:

Além disso, a população é iniciada de forma aleatória sob a malha. Deste modo, não há tendência inicial à formação de centros com alta densidade de população.

Esta forma inicial da população se assemelha muito à proposição inicial que Keller-Segel fizeram para um sistema celular, como descrito acima. Na prática, temos uma concentração homogênea com pequenas flutuações ao longo do eixo.

Resultados da simulação para o caso de m(x,t=0)=0, e população iniciada aleatoriamente.

Na imagem acima, para t = 0 (início da simulação) compreende-se melhor as condições iniciais do sistema. Enquanto que a população, aleatoriamente distribuída sob o eixo x, se assemelha a um ruído branco, o dinheiro não existe na malha.

Na segunda coluna de imagens, nota-se um ponto interessante: a formação de clusters de população (e consequentemente, de dinheiro). Estes clusters são, na verdade, picos que aparecem no gráfico de p(x,t), e indicam alta concentração da população em pontos específicos. Além dos picos claramente visíveis (um deles próximo a x=50, e outro próximo a x=90) pode-se enxergar, também, sub-picos nas bases destes picos de população. Para t=24.9 e dt=0.3, deduz-se que o sistema, nesta representação, havia passado por 83 iterações até então, o que indica que, durante estas 83 iterações, haviam mais clusters de população em tempos passados, menores porém definidos. E estes "mini-clusters" se agruparam até formar os 2 picos que vemos.

Com o passar do tempo na simulação, nota-se que o comportamento continua, de modo que para a última coluna de figuras é visível que apenas 1 dos picos iniciais se manteve, enquanto o outro foi praticamente inteiro "engolido" pela cauda do maior. Este comportamento de formação de 1 único cluster de população, com shape gaussiano, já havia sido observado na simulação anterior, para suficientemente grande.

Simulação do mesmo sistema anterior, para t suficientemente grande (t = 270 neste caso) a ponto de chegar em um estado próximo ao equilíbrio, onde as funções que descrevem população e renda do sistema praticamente não se alteram mais com o tempo.

A figura acima mostra o que acontece caso deixemos o mesmo sistema apresentado antes evoluir até um estado de equilíbrio, onde não há alterações para a população ou renda do sistema. Neste caso, observa-se com mais clareza uma curva de shape gaussiano, em localização bem próxima àquela que vimos para t=124.8 na figura anterior, tanto para a distribuição da população quanto da renda. E mais uma vez, mesmo que não muito perceptível pois as 2 curvas apresentadas são bem largas, o desvio padrão da curva que descreve a renda aparenta ser maior que o desvio padrão da curva que descreve a população.

População e renda iniciados aleatoriamente na rede

Sob a perspectiva de testar a formação de clusters de população, foi criada uma rede completamente aleatória, sem nenhum viés, seja populacional ou econômico. Para isto, tanto população quanto renda possuem valores aleatórios para

Resultados da simulação para rede iniciada com população e renda aleatórias em t = 0.

Enquanto que a primeira coluna de gráficos mostra o estado inicial caótico do sistema, a segunda coluna (t = 9.9) indica exatamente o esperado: 5 clusters bem visíveis são formados para a população. Nota-se, entretanto, que os mesmos 5 picos não são tão visíveis no gráfico de rendas. Uma explicação para isto seria que, mais uma vez, com os valores de desvio padrão da distribuição mais elevados, um pico acaba se sobrepondo a outro, tornando as distribuições difícies de se distinguir.

Conforme a simulação avança no tempo, é perceptível também a tendência entre os picos de se mergirem. E, como visto anteriormente, para , a tendência é que o sistema colapse para um estado com somente um pico de shape gaussiano na população, e um pico na renda, com desvio padrão maior.

Com isso, conclui-se que a formação destes clusters é, de fato, inerente ao sistema, e consequência do modelo utilizado.

2D

Para o caso em duas dimensões, foi utilizada uma distribuição populacional uniforme em todo o espaço. Já a distribuição econômica, no instante t=0 começou da seguinte forma: Em cada canto do espaço foi atribuído um valor de 0.125, no centro 0.2 e ao redor do centro em 4 pontos 1. A seguir, é confirmado um comportamento que foi observado no caso unidimensional, em que os picos concentrados, após a evolução do sistema, tomam a forma de gaussianas. É possível notar também que a população tende a "clusterizar" em torno dos locais em que a atividade econômica tinha valores altos no início da simulação. Isso se deve principalmente ao termo que é influenciado pela constante do sistema de EDPs que modela o sistema.

Evolução da atividade econômica e da população para população inicial uniformemente distribuída

A seguir, foi gerada uma animação com a evolução do sistema até a estabilização da atividade econômica. A estabilidade da atividade econômica foi entendida como , onde é o valor que regula o erro. Para este caso .

Animação da evolução do sistema

Os parâmetros utilizados para gerar as imagens foram os seguintes: , , , , , , ,

Discussão

Falar que um estudo sobre a estabilidade do método pode possibilitar a exploração de novos parâmetros

Programas

Referências

Sayama

Scherrer

[1]