Modelo de Keller-Segel para relação população-economia
Grupo: Leonardo Barcelos, Luana Bianchi e Rubens Borrasca
O objetivo deste trabalho é implementar o modelo de Keller-Segel, que originalmente descreve chemotaxis: movimento de organismo em direção ou contra algum sinal químico, para um sistema englobando população e atividade econômica. O método computacional utilizado para resolver o problema e implementar o modelo foi o FTCS (Forward Time Centered Space).
Modelo de Keller-Segel
Proposto por Evelyn Fox Keller, física norte-americana, e Lee Aaron Segel, matemático também norte-americano, o modelo de Keller-Segel foi historicamente utilizado para descrever o movimento de bactérias. Introduzido primeiramente em 1970 para descrever a agregação de uma espécie de bolor limoso (ou slime mold) ameboide, Dictyostelium discoideum, o modelo se tornou um dos mais usados nos estudos biológicos-matemáticos. As células deste slime mold se comportam como amoebas individuais, e se alimentam de bactérias, mas quando a quantidade de comida fica pequena, elas se difundem pelo espaço e então se agregam em formato mais alongado, como o formato das lesmas, para uma migração de longa distância. Keller e Segel desenvolveram um modelo matemático para o processo de agregação, em que a chemotaxis tem papel crítico na auto-ormanização das células.
Baseados no que já era conhecido sobre esses organismos, Keller e Segel utilizaram as seguintes premissas:
- As células estão inicialmente distribuídas sobre o espaço de maneira mais ou menos homogênea, com algumas flutuações aleatótias;
- As células apresentam chemotaxis em direção ao sinal químico denominado cAMP (cyclic adenosine monophosphate);
- As células produzem moléculas cAMP;
- As células e as moléculas cAMP difundem pelo espaço;
- As células não morrem e não se dividem
De forma simplificada, ocultando alguns detalhes biológicos mais complicados a equação de Keller-Segel é a seguinte:
em que e são respectivamente as variáveis de estado para a concentração de células e a concentração de cMAP. é o parâmetro de mobilidade das células, é o parâmetro da chemotaxis celular, é a constante de difusão das moléculas cAMP, é a taxa de secreção de cMAP pelas células, e é a taxa de decaimento das moléculas cMAP.
Aplicação população-economia
De forma parecida com as premissas de Keller e Segel, os seguintes pontos são assumidos para modelar a relação entre a população e a atividade econômica:
- A população não cresce e não decresce ao longo do tempo;
- A economia é ativada por existir mais pessoas em uma região;
- Sem pessoas a atividade econômica diminui;
- População e atividade econômica difundem gradualmente;
- As pessoas são atraídas por regiões com maior atividade econômica
Traduzindo estes pontos em equações matemáticas, se obtêm as seguintes equações:
em que representa a população e a atividade econômica. é a constante que determina a taxa de produção de atividade econômica per capita, é a constante da taxa de decaimento da atividade econômica, e são as constantes de difusão da população e da economia respectivamente, e é a constante que afeta a velocidade média do movimento da população.
Comparando o sistema obtido com o problema original de Keller-Segel, percebe-se que se trocarmos células por pessoas e cMAP por atividade econômica os problemas ficam iguais, e até se poderia denominar como moneytaxis a migração das pessoas em direção a atividade econômica, como a chemotaxis descreve o movimento das células em direção ao cAMP.
Método FTCS
O FTCS (Forward Time Centered Space, em tradução livre significa "avançado no tempo, centrado no espaço), é um método de discretização de Equações Diferenciais Parciais(EDP). Para a derivada temporal teremos,
e para a parte espacial,
onde é uma variável espacial qualquer e é o tempo.
Discretização do Modelo de Keller-Segel em 1D
Em 1D o sistema de equações diferenciais parciais será:
Agora utilizando a discretização FTCS teremos:
onde o sub-índice se refere à coordenada ; e o superíndice se refere ao tempo. Reorganizando as equações e agrupando alguns termos teremos:
onde os termos agrupados são: , , , ,
Discretização do Modelo de Keller-Segel em 2D
Em 2D o sistema de equações diferenciais parciais será:
Agora utilizando a discretização FTCS e assumindo que teremos:
onde os sub-índices e se referem às coordenadas e respectivamente; e o superíndice se refere ao tempo. Reorganizando as equações e agrupando alguns termos teremos:
Resultados
1D
Com o intuito de testar melhor a equação e suas consequências, os resultados foram divididos em várias simulações diferentes.
População e Dinheiro em pontos separados
Para esta simulação, considera-se que no tempo 0, toda a população está concentrada em 1 ponto, enquanto todo o dinheiro está em um outro ponto distante.
Os parâmetros utilizados foram:
Na figura acima, consegue-se observar o resultado da construção do sistema desta maneira.
Com toda a população concentrada em 1 ponto (), a atividade econômica cresce consideravelmente neste intervalo ao longo do tempo. Em contrapartida, o local que continha todo o dinheiro no começo da simulação (), em pouco tempo tem a sua renda líquida migrada para onde tem uma densidade populacional maior. Essa tendência indica, portanto, que o sistema é construído de tal forma que a atração da população por regiões de alta renda líquida é menor que a atração do sistema monetário de seguir para pontos de alta densidade populacional.
Além disso, outra observação interessante é que nota-se para uma tendência inerente da densidade populacional em seguir uma distribuição de shape gaussiano sob a malha. Considerando que a equação que define o movimento populacional com o tempo contém um termo difusivo, e que a solução para uma difusão simples em 1 dimensão também assume um shape gaussiano, este resultado faz sentido. Mas uma coisa interessante é que, depois de se desfazer de seu formato inicial, o total de dinheiro sob a malha tende a seguir a distribuição populacional, porém com um desvio padrão maior (maior abertura na Gaussiana). Essa observação indica que, para centros econômicos (regiões com alto ) a tendência é que suas periferias também possuam valores altos de renda, apesar da população consideravelmente menor. Além disso, para regiões fora do contorno de centros econômicos (distância maior do que 3 vezes o desvio padrão da gaussiana) a atividade econômica é basicamente nula, assim como a densidade populacional. Este último fato descreve de forma genérica e simplista o comportamento atual observado em metrópoles nos dias de hoje: uma cidade grande possui alto número de habitantes, alta renda, seus contornos também apresentam atividade econômica forte (porém menor que o centro), mas para um raio suficientemente grande, tanto dinheiro quanto população caem exponencialmente.
População uniforme e sem dinheiro no sistema para t = 0
Nesta simulação, considera-se que, para t=0, não há dinheiro sob a malha. Deste modo, a equação que descreve o dinheiro no sistema ao longo do tempo pode ser escrita como:
Além disso, a população é iniciada de forma aleatória sob a malha. Deste modo, não há tendência inicial à formação de centros com alta densidade de população.
Esta forma inicial da população se assemelha muito à proposição inicial que Keller-Segel fizeram para um sistema celular, como descrito acima. Na prática, temos uma concentração homogênea com pequenas flutuações ao longo do eixo.
Na imagem acima, para t = 0 (início da simulação) compreende-se melhor as condições iniciais do sistema. Enquanto que a população, aleatoriamente distribuída sob o eixo x, se assemelha a um ruído branco, o dinheiro não existe na malha.
Na segunda coluna de imagens, nota-se um ponto interessante: a formação de clusters de população (e consequentemente, de dinheiro). Estes clusters são, na verdade, picos que aparecem no gráfico de p(x,t), e indicam alta concentração da população em pontos específicos. Além dos picos claramente visíveis (um deles próximo a x=50, e outro próximo a x=90) pode-se enxergar, também, sub-picos nas bases destes picos de população. Para t=24.9 e dt=0.3, deduz-se que o sistema, nesta representação, havia passado por 83 iterações até então, o que indica que, durante estas 83 iterações, haviam mais clusters de população em tempos passados, menores porém definidos. E estes "mini-clusters" se agruparam até formar os 2 picos que vemos.
Com o passar do tempo na simulação, nota-se que o comportamento continua, de modo que para a última coluna de figuras é visível que apenas 1 dos picos iniciais se manteve, enquanto o outro foi praticamente inteiro "engolido" pela cauda do maior. Este comportamento de formação de 1 único cluster de população, com shape gaussiano, já havia sido observado na simulação anterior, para suficientemente grande.
A figura acima mostra o que acontece caso deixemos o mesmo sistema apresentado antes evoluir até um estado de equilíbrio, onde não há alterações para a população ou renda do sistema. Neste caso, observa-se com mais clareza uma curva de shape gaussiano, em localização bem próxima àquela que vimos para t=124.8 na figura anterior, tanto para a distribuição da população quanto da renda. E mais uma vez, mesmo que não muito perceptível pois as 2 curvas apresentadas são bem largas, o desvio padrão da curva que descreve a renda aparenta ser maior que o desvio padrão da curva que descreve a população.
2D
No caso 2D, o estado inicial de distribuição da população se deu da seguinte forma: , e . Já a atividade econômica ficou concentrada: . Os parâmetros utilizados para a simulação em 2D foram: , , , , , , ,
Discussão
Programas
Referências
Sayama
Scherrer