Trabalhos 2022/2: mudanças entre as edições
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=== [[ Equações de Laplace e Poisson - Eletrostática ]] === | === [[ Equações de Laplace e Poisson - Eletrostática ]] === | ||
=== [[Shooting method e Método de Crank-Nicolson aplicados à Equação de Schrödinger]] === | === [[Shooting method e Método de Crank-Nicolson aplicados à Equação de Schrödinger]] === | ||
O objetivo deste trabalho é aplicar o Shooting method (método do chute) para encontrar as primeiras funções de onda espaciais da Equação de Schrödinger para o caso do poço de potencial infinito. Após, será realizada a evolução temporal através do Método de Crank-Nicolson. | |||
==Equação de Schrödinger== | |||
A equação de Schrödinger unidimensional pode ser escrita da seguinte maneira: | |||
<center><math> i\hbar\frac{\partial\Psi}{\partial t}=-\frac{\hbar^2}{2m}\frac{\partial^2 \Psi}{\partial x^2}+V\Psi.</math></center> | |||
Para resolvê-la é necessário efetuar uma separação de variáveis: | |||
<center><math>\Psi(x,t)=\psi(x)\varphi(t).</math></center> | |||
Aplicando na primeira equação e separando os termos espaciais dos termos temporais, chega-se a uma equação com o seguinte formato: | |||
<center><math>i\hbar\frac{1}{\varphi}\frac{d\varphi}{dt}=-\frac{\hbar^2}{2m}\frac{1}{\psi}\frac{d^2\psi}{dx^2}+V. </math></center> | |||
Pelo fato da parte da esquerda ser dependente de ''t'' e a parte da direita ser dependente de ''x'' e de ambas estarem relacionadas por uma igualdade, é necessário que ambos os lados sejam constantes: em outras palavras, não é possível modificar um lado sem necessariamente alterar o outro. Através de um raciocínio perspicaz, a constante em questão será denominada ''E''. | |||
===Parte temporal=== | |||
A parte que diz respeito à evolução temporal: | |||
<center><math> \frac{d\varphi}{dt}=-\frac{iE}{\hbar}\varphi.</math></center> | |||
A solução geral possui o seguinte formato | |||
<center><math> \varphi(t)=Ce^{-\frac{-iEt}{\hbar}} ,</math></center> | |||
cuja constante C pode, neste caso, ser absorvida, de modo que | |||
<center><math> \varphi(t)=e^{-\frac{-iEt}{\hbar}} . </math></center> | |||
===Parte espacial=== | |||
Quanto à parte espacial, utilizando o mesmo raciocínio empregado anteriormente, a equação pode ser escrita como | |||
<center><math>-\frac{\hbar^2}{2m}\frac{d^2\psi}{dx^2}+V\psi=E\psi </math></center> | |||
Para este caso, no entanto, não há uma única solução, pois esta depende do potencial ''V'' escolhido. Para o presente trabalho optou-se por trabalhar com o caso do poço infinito de potencial pelo fato das soluções analíticas já serem conhecidas, de modo a tornar possível avaliar os resultados numéricos obtidos à luz da solução analítica. | |||
==Poço de potencial infinito== | |||
Esquematicamente, tem-se: | |||
[[Arquivo:Poço.png|200px|thumb|center|Poço de potencial infinito]] | |||
O potencial pode ser descrito como: | |||
<center><math> | |||
V(x) = | |||
\begin{cases} | |||
0, & \mbox{se } 0\leq x\leq L, \\ | |||
\infty, & \mbox{de outra forma.} | |||
\end{cases} | |||
</math></center> | |||
Dentro do poço, onde $V=0$, o problema pode ser modelado da seguinte maneira | |||
<center><math>-\frac{\hbar^2}{2m}\frac{d^2\psi}{dx^2}=E\psi , </math></center> | |||
ou | |||
<center><math>\frac{d^2\psi}{dx^2}=-k^2\psi,</math></center> onde <center><math>k\equiv \frac{\sqrt{2mE}}{\hbar}.</math></center> | |||
A solução é dada por | |||
<center><math>\psi(x)=Asen(kx)+Bcos(kx).</math></center> | |||
Aplicando as condições de contorno <math>\psi(0)=\psi(L)=0 </math> e efetuando a normalização da função de onda, obtém-se a solução geral | |||
<center><math>\psi_n(x)=\sqrt{\frac{2}{L}}sen\left(\frac{n\pi}{L}x\right), </math></center> | |||
cujas energias discretizadas são | |||
<center><math>E_n=\frac{\hbar^2k_n^2}{2m}=\frac{n^2\pi^2\hbar^2}{2mL^2}.</math></center> | |||
Utilizando a equação acima, pode-se calcular os valores da energia de cada estado estacionário. Para o caso de um elétron, as energias referentes aos três estados estacionários são <math>E_1=0,376</math> eV, <math>E_2=1,504</math> eV e <math>E_3=3,384</math> eV. | |||
Na próxima seção será feita uma estimativa dos valores acima expostos através do "Shooting method". | |||
==Shooting Method== | |||
Muitos métodos numéricos (e.g. Runge-Kutta, Forward Euler) requerem os valores da função e de sua derivada no ponto inicial. Acontece que podem haver problemas em que estes valores não estarão disponíveis, principalmente o valor da derivada em questão. Uma alternativa seria conjecturar o valor da condição inicial e integrar, através de um método apropriado, em direção à outra condição de contorno: um "chute" apropriado faria com que a integração evoluísse e retornasse um valor muito próximo, a depender da acurácia necessária, ao da condição de contorno. A ideia seria executar os seguintes passos: | |||
# Supor um valor para a condição de contorno desconhecida (e.g. <math>y(0)</math> ou <math>y'(0)</math>); | |||
# Integrar o problema através de um método conhecido até a próxima condição de contorno (e.g., <math>y(L)</math>); | |||
# Se o chute inicial não fez com que o sistema evoluísse até <math>y(L)</math>, então deve-se supor outro valor para a condição inicial e repetir o procedimento. | |||
O método descrito acima de forma simplificada recebe o nome, em inglês, de ''Shooting method'', o que em português seria algo como "Método do tiro" ou "Método do chute". Na próxima seção esse método será aplicado para o caso do poço infinito de potencial. | |||
===Poço de potencial infinito=== | |||
Seja a equação <math>\frac{d^2\psi}{dx^2}=-k\psi E</math>, onde <math>k=\frac{2m}{\hbar^2}</math>. | |||
Escrevendo com outra notação: <math>\ddot{\psi}=-k\psi E</math>. | |||
Dividindo o problema em <math>\Delta x </math>'s pequenos, pode-se reescrever a equação acima da seguinte forma: | |||
<center><math> \ddot{\psi}=\frac{\Delta \dot{\psi}}{\Delta x}=\frac{\dot{\psi_2}-\dot{\psi_1}}{\Delta x} \implies \dot{\psi_2}=\ddot{\psi} \Delta x + \dot{\psi_1}</math></center>. | |||
Também: | |||
<center><math>\dot{\psi}=\frac{\Delta \psi}{\Delta x}=\frac{\psi_2-\psi_1}{\Delta x} \implies \psi_2 = \dot{\psi}\Delta x + \psi_1</math></center>. | |||
Além disso: | |||
<center><math>\Delta x = x_2-x_1 \implies x_2 = x_1 +\Delta{x}</math></center>. | |||
A integração, então, é realizada utilizando as relações 8, 9, 10 e 11, até que se atinja a borda do poço, isto é, <math>x=L</math>. | |||
Com a discretização acima, foi possível implementar o algoritmo. Das condições de contorno do problema, sabe-se que <math>\psi(0)=0</math>, de modo que <math>\psi_1=0</math>. No entanto, o valor da derivada <math>\dot{\psi_1}</math> não é conhecido, de modo que supõe-se que seja uma constante, a saber, <math>\dot{\psi_1}=1</math>. Chutando que <math>E=0</math>, utilizando a massa do elétron e <math>L=1</math>, obtém-se a primeira solução estacionária: | |||
[[Arquivo:n=1.png|300px|thumb|center|Solução estacionária (n=1)]] | |||
Pode-se observar que o valor de energia obtido numericamente é cerca de 4% menor do que aquele obtido analiticamente. | |||
Para o caso n=2: | |||
[[Arquivo:n=2.png|300px|thumb|center|Solução estacionária (n=2)]] | |||
Aqui, o valor obtido numericamente é aproximadamente 5% maior do que o valor obtido analiticamente. | |||
Para o caso n=3: | |||
[[Arquivo:n=3.png|300px|thumb|center|Solução estacionária (n=3)]] | |||
Para este caso, o valor numérico é cerca de 1% menor do que o valor analítico. | |||
==Método de Crank-Nicolson== | |||
Seja a equação diferencial | |||
<center><math>\frac{\partial f}{\partial t}=L_1{\textbf{r}}f(\textbf{r},t)</math></center>, | |||
onde <math>L_{\textbf{r}}</math> é um operador diferencial linear em '''r'''. | |||
Em forma discretizada no tempo, pode-se escrever | |||
<center><math> | |||
f^{n+1}(\textbf{r})-f^{n}(\textbf{r})= L_{\textbf{r}}f^{n}(\textbf{r})dt | |||
</math></center>. | |||
Por simetria, pode-se escrever a equação acima utilizando um f à direita: | |||
<center><math> | |||
f^{n+1}(\textbf{r})-f^{n}(\textbf{r})= L_{\textbf{r}}f^{n+1}(\textbf{r})dt . | |||
</math></center> | |||
A equação acima é dita "explícita" pois, para o cálculo de <math>f^{n+1}</math>, só é utilizado o valor já explicitamente calculado <math>f^{n}</math>. Já a equação anterior é chamada implícita pois <math>f^{n+1}</math> está presente explicitamente. Em termos numéricos, um método peca pelo excesso enquanto o outro o faz pela falta, de modo que um resultado mais satisfatório pode ser obtido ao tomar-se a média dos dois: | |||
<center><math> | |||
f^{n+1}(\textbf{r})-f^{n}(\textbf{r})=\frac{dt}{2}(L_{\textbf{r}}f^{n+1}(\textbf{r})+L_{\textbf{r}}f^n(\textbf{r})). | |||
</math></center> | |||
Após alguma álgebra: | |||
<center><math> f^{n+1}(\textbf{r})=\left(1-\frac{dt}{2}L_{\textbf{r}}\right)^{-1}\left(1+\frac{dt}{2}L_{\textbf{r}}\right)f^{n}(\textbf{r}) </math></center>. | |||
Chamando <math> M=I+\frac{dt}{2}L_{\textbf{r}} </math> e <math> E=I-\frac{dt}{2}L_{\textbf{r}} </math>, onde ''I'' indica a matriz identidade, pode-se reescrever a equação acima na seguinte maneira: | |||
<center><math> f^{n+1}=E^{-1}Mf^{n} </math></center>. | |||
Trata-se do método de Crank-Nicolson, mais estável e preciso do que os métodos implícito e explícito. Caso o problema apresentar condições de contorno, estas serão devidamente implementadas nos elementos das matrizes ''M'' e ''E''. | |||
===Equação de Schrödinger=== | |||
Seja a equação de Schrödinger unidimensional | |||
<center><math> i\hbar\frac{\partial\Psi}{\partial t}=-\frac{\hbar^2}{2m}\frac{\partial^2 \Psi}{\partial x^2}+V\Psi </math></center>. | |||
Efetuando a discretização das variáveis através do Método de Crank-Nicolson, obtém-se: | |||
<center><math>\frac{\partial \Psi}{\partial t}= \frac{\Psi_{j}^{n+1}-\Psi_{j}^{n}}{\Delta t} ;</math></center> | |||
<center><math>\frac{\hbar^2}{2m}\frac{\partial^2 \Psi}{\partial x^2} = \frac{\hbar^2}{2m}\left[\frac{(\Psi_{j+1}^{n+1}-2\Psi_{j}^{n+1}+\Psi_{j-1}^{n+1})+ (\Psi_{j+1}^{n}-2\Psi_{j}^{n}+\Psi_{j-1}^{n})}{2\Delta x^2}\right] ;</math></center> | |||
<center><math>V\Psi = \frac{1}{2}[V_{j}^{n+1}\Psi_{j}^{n+1}+V_{j}^{n}\Psi_{j}^{n}] .</math></center> | |||
Substituindo as discretizações na eq. de Schrödinger: | |||
<center><math>i\left(\frac{\Psi_{j}^{n+1}-\Psi_{j}^{n}}{\Delta t}\right)=-\frac{\hbar^2}{4m(\Delta x)^2} \left[(\Psi_{j+1}^{n+1}-2\Psi_{j}^{n+1}+\Psi_{j-1}^{n+1})+ (\Psi_{j+1}^{n}-2\Psi_{j}^{n}+\Psi_{j-1}^{n})\right]+\frac{1}{2}[V_{j}^{n+1}\Psi_{j}^{n+1}+V_{j}^{n}\Psi_{j}^{n}].</math></center> | |||
Supondo <math>\hbar=m=1</math> e separando as partes explícita e implícita, obtém-se, após alguma álgebra: | |||
<center><math>\Psi_{j}^{n+1}\left[1+\frac{i\Delta t}{2}\left(\frac{1}{\Delta x^2}+V_{j}^{n+1}\right)\right]+\Psi_{j-1}^{n+1}\left[-\frac{i\Delta t}{4\Delta x^2}\right]+\Psi_{j+1}^{n+1}\left[-\frac{i\Delta t}{4\Delta x^2}\right] = \Psi_{j}^{n}\left[1-\frac{i\Delta t}{2}\left(\frac{1}{\Delta x^2}+V_{j}^{n}\right)\right]+\Psi_{j-1}^{n}\left[-\frac{i\Delta t}{4\Delta x^2}\right]+\Psi_{j+1}^{n}\left[\frac{i\Delta t}{4\Delta x^2}\right].</math></center> | |||
Definindo | |||
<center><math>a\equiv\frac{-i\Delta t}{4(\Delta x)^2}</math></center> e <center><math>b_{j}\equiv\left(1+\frac{i\Delta t}{2}\right)\left(\frac{1}{\Delta x^2}+V_j\right),</math></center> obtém-se: | |||
<center><math>\Psi_{j}^{n+1}b_{j}+\Psi_{j-1}^{n+1}a+\Psi_{j+1}^{n+1}a = \Psi_{j}^{n}b_{j}^{*}+\Psi_{j-1}^{n}a^{*}+\Psi_{j+1}^{n}a^{*} .</math></center> | |||
A equação acima pode ser escrita em forma matricial, de modo que: | |||
<center><math>\hat{C}\Psi^{n+1}=\hat{D}\Psi^{n},</math></center> | |||
onde | |||
<center><math> | |||
\hat{C} = | |||
\begin{bmatrix} | |||
b _{0} &a &0 & &... &0 \\ | |||
a & b_{1} &a &0 &... &0\\ | |||
0 & a &b_{2} &a & 0 &0 \\ | |||
0 & 0 & \ddots & \ddots &\ddots \\ | |||
... & ... &... & a &b_{j-1} &a \\ | |||
0 & 0 &... & 0 &a &b_{j}\\ | |||
\end{bmatrix} | |||
</math></center> | |||
e | |||
<center><math> | |||
\hat{D} = | |||
\begin{bmatrix} | |||
b_{0}^{*} &a &0 & &... &0 \\ | |||
a^{*} & b_{1}^{*} &a^{*} &0 &... &0\\ | |||
0 & a^{*} &b_{2}^{*} &a^{*} & 0 &0 \\ | |||
0 & 0 & \ddots & \ddots &\ddots \\ | |||
... &... &... & a^{*} &b_{j-1}^{*} &a^{*} \\ | |||
0 & 0 &... & 0 &a^{*} &b_{j}^{*}\\ | |||
\end{bmatrix} | |||
</math></center> | |||
Para avaliar a evolução temporal do sistema, é necessário encontrar <math>\Psi^{n+1}</math>. Utilizando resultados anteriores, pode-se obter <math>\Psi^{n+1}</math> através da seguinte relação: | |||
<center><math> | |||
\Psi^{n+1}=\hat{C}^{-1}\hat{C^{*}}\Psi^{n} | |||
</math></center> | |||
===Poço de potencial infinito=== | |||
Para o presente caso a ideia é obter a evolução temporal do sistema, impondo condições de contorno iguais a zero, de modo que os operadores <math>\hat{C}</math> e <math>\hat{D}</math> ficam: | |||
<center><math> | |||
\hat{C} = | |||
\begin{bmatrix} | |||
1 &0 &0 & &... &0 \\ | |||
a & b &a &0 &... &0\\ | |||
0 & a &b &a & 0 &0 \\ | |||
0 & 0 & \ddots & \ddots &\ddots \\ | |||
... &... &... & a &b &a \\ | |||
0 & 0 &... & 0 &0 &1\\ | |||
\end{bmatrix} | |||
</math></center> | |||
e | |||
<center><math> | |||
\hat{D} = | |||
\begin{bmatrix} | |||
1 &0 &0 & &... &0 \\ | |||
a^{*} & b^{*} &a^{*} &0 &0... &0\\ | |||
0 & a^{*} &b^{*} &a^{*} & 0 &0 \\ | |||
0 & 0 & \ddots & \ddots &\ddots \\ | |||
... &... &... & a^{*} &b^{*} &a^{*} \\ | |||
0 & 0 &... & 0 &0 &1\\ | |||
\end{bmatrix} | |||
</math></center> | |||
A ideia é que o primeiro e o último termo do tanto do vetor <math>\Psi^{n}</math> quanto do vetor <math>\Psi^{n+1}</math> seja constante, o que satisfaz as condições de contorno do presente caso. Também é interessante notar que os índices <math>b</math> são todos constantes, visto que no presente caso o potencial dentro do poço é nulo. | |||
Implementando o algoritmo descrito acima, obteve-se: | |||
[[Arquivo:Animação_n_1.gif|300px|thumb|center|Evolução temporal (n=1)]] | |||
Evolução temporal para o caso n=1. Nesta animação e nas subsequentes, foram sobrepostas as partes real e imaginária da equação de Schrödinger: a linha azul diz respeito à parte real enquanto a amarela, à imaginária. | |||
[[Arquivo:Animação_n_2.gif|300px|thumb|center|Evolução temporal (n=2)]] | |||
Na figura acima, tem-se a evolução do caso n=2. | |||
[[Arquivo:Animação_n_3.gif|300px|thumb|center|Evolução temporal (n=3)]] | |||
Por último, o caso n=3. |
Edição das 19h26min de 12 de fevereiro de 2023
Equações de Laplace e Poisson - Eletrostática
Shooting method e Método de Crank-Nicolson aplicados à Equação de Schrödinger
O objetivo deste trabalho é aplicar o Shooting method (método do chute) para encontrar as primeiras funções de onda espaciais da Equação de Schrödinger para o caso do poço de potencial infinito. Após, será realizada a evolução temporal através do Método de Crank-Nicolson.
Equação de Schrödinger
A equação de Schrödinger unidimensional pode ser escrita da seguinte maneira:
Para resolvê-la é necessário efetuar uma separação de variáveis:
Aplicando na primeira equação e separando os termos espaciais dos termos temporais, chega-se a uma equação com o seguinte formato:
Pelo fato da parte da esquerda ser dependente de t e a parte da direita ser dependente de x e de ambas estarem relacionadas por uma igualdade, é necessário que ambos os lados sejam constantes: em outras palavras, não é possível modificar um lado sem necessariamente alterar o outro. Através de um raciocínio perspicaz, a constante em questão será denominada E.
Parte temporal
A parte que diz respeito à evolução temporal:
A solução geral possui o seguinte formato
cuja constante C pode, neste caso, ser absorvida, de modo que
Parte espacial
Quanto à parte espacial, utilizando o mesmo raciocínio empregado anteriormente, a equação pode ser escrita como
Para este caso, no entanto, não há uma única solução, pois esta depende do potencial V escolhido. Para o presente trabalho optou-se por trabalhar com o caso do poço infinito de potencial pelo fato das soluções analíticas já serem conhecidas, de modo a tornar possível avaliar os resultados numéricos obtidos à luz da solução analítica.
Poço de potencial infinito
Esquematicamente, tem-se:
O potencial pode ser descrito como:
Dentro do poço, onde $V=0$, o problema pode ser modelado da seguinte maneira
ou
onde
A solução é dada por
Aplicando as condições de contorno e efetuando a normalização da função de onda, obtém-se a solução geral
cujas energias discretizadas são
Utilizando a equação acima, pode-se calcular os valores da energia de cada estado estacionário. Para o caso de um elétron, as energias referentes aos três estados estacionários são eV, eV e eV.
Na próxima seção será feita uma estimativa dos valores acima expostos através do "Shooting method".
Shooting Method
Muitos métodos numéricos (e.g. Runge-Kutta, Forward Euler) requerem os valores da função e de sua derivada no ponto inicial. Acontece que podem haver problemas em que estes valores não estarão disponíveis, principalmente o valor da derivada em questão. Uma alternativa seria conjecturar o valor da condição inicial e integrar, através de um método apropriado, em direção à outra condição de contorno: um "chute" apropriado faria com que a integração evoluísse e retornasse um valor muito próximo, a depender da acurácia necessária, ao da condição de contorno. A ideia seria executar os seguintes passos:
- Supor um valor para a condição de contorno desconhecida (e.g. ou );
- Integrar o problema através de um método conhecido até a próxima condição de contorno (e.g., );
- Se o chute inicial não fez com que o sistema evoluísse até , então deve-se supor outro valor para a condição inicial e repetir o procedimento.
O método descrito acima de forma simplificada recebe o nome, em inglês, de Shooting method, o que em português seria algo como "Método do tiro" ou "Método do chute". Na próxima seção esse método será aplicado para o caso do poço infinito de potencial.
Poço de potencial infinito
Seja a equação , onde .
Escrevendo com outra notação: .
Dividindo o problema em 's pequenos, pode-se reescrever a equação acima da seguinte forma:
.
Também:
.
Além disso:
.
A integração, então, é realizada utilizando as relações 8, 9, 10 e 11, até que se atinja a borda do poço, isto é, .
Com a discretização acima, foi possível implementar o algoritmo. Das condições de contorno do problema, sabe-se que , de modo que . No entanto, o valor da derivada não é conhecido, de modo que supõe-se que seja uma constante, a saber, . Chutando que , utilizando a massa do elétron e , obtém-se a primeira solução estacionária:
Pode-se observar que o valor de energia obtido numericamente é cerca de 4% menor do que aquele obtido analiticamente.
Para o caso n=2:
Aqui, o valor obtido numericamente é aproximadamente 5% maior do que o valor obtido analiticamente.
Para o caso n=3:
Para este caso, o valor numérico é cerca de 1% menor do que o valor analítico.
Método de Crank-Nicolson
Seja a equação diferencial
,
onde é um operador diferencial linear em r.
Em forma discretizada no tempo, pode-se escrever
.
Por simetria, pode-se escrever a equação acima utilizando um f à direita:
A equação acima é dita "explícita" pois, para o cálculo de , só é utilizado o valor já explicitamente calculado . Já a equação anterior é chamada implícita pois está presente explicitamente. Em termos numéricos, um método peca pelo excesso enquanto o outro o faz pela falta, de modo que um resultado mais satisfatório pode ser obtido ao tomar-se a média dos dois:
Após alguma álgebra:
.
Chamando e , onde I indica a matriz identidade, pode-se reescrever a equação acima na seguinte maneira:
.
Trata-se do método de Crank-Nicolson, mais estável e preciso do que os métodos implícito e explícito. Caso o problema apresentar condições de contorno, estas serão devidamente implementadas nos elementos das matrizes M e E.
Equação de Schrödinger
Seja a equação de Schrödinger unidimensional
.
Efetuando a discretização das variáveis através do Método de Crank-Nicolson, obtém-se:
Substituindo as discretizações na eq. de Schrödinger:
Supondo e separando as partes explícita e implícita, obtém-se, após alguma álgebra:
Definindo
e
obtém-se:
A equação acima pode ser escrita em forma matricial, de modo que:
onde
e
Para avaliar a evolução temporal do sistema, é necessário encontrar . Utilizando resultados anteriores, pode-se obter através da seguinte relação:
Poço de potencial infinito
Para o presente caso a ideia é obter a evolução temporal do sistema, impondo condições de contorno iguais a zero, de modo que os operadores e ficam:
e
A ideia é que o primeiro e o último termo do tanto do vetor quanto do vetor seja constante, o que satisfaz as condições de contorno do presente caso. Também é interessante notar que os índices são todos constantes, visto que no presente caso o potencial dentro do poço é nulo.
Implementando o algoritmo descrito acima, obteve-se:
Evolução temporal para o caso n=1. Nesta animação e nas subsequentes, foram sobrepostas as partes real e imaginária da equação de Schrödinger: a linha azul diz respeito à parte real enquanto a amarela, à imaginária.
Na figura acima, tem-se a evolução do caso n=2.
Por último, o caso n=3.