Derivada Numérica: mudanças entre as edições
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A derivada de uma função <math>f(x)</math> é definida como um processo de limite, o qual é matematicamente descrito por: | |||
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|<math>f'(x)=\lim_{\Delta x\to 0}{f(x+\Delta x)-f(x)\over \Delta x}</math> || (Eq. 1) | |||
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Numericamente é impossível tomarmos o limite <math>\Delta x\to 0</math>; temos necessariamente que trabalhar com um valor de <math>\Delta x</math> ''finito''. Portanto, a todo cálculo numérico de uma derivada será associado um ''erro numérico''. Abaixo veremos dois métodos numéricos para calcular derivadas e estimaremos os erros associados a tais métodos. | |||
== Derivada à direita == | |||
Este método se baseia na definição formal de derivada. Para um dado valor de incremento <math>\Delta x</math>, definimos a derivada numérica (a direita) como: | |||
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|<math>\frac{\Delta f^+}{\Delta x} = \frac{\Delta f(x)}{\Delta x} = {f(x+\Delta x)-f(x)\over \Delta x}</math> || (Eq. 2) | |||
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A expressão a direita é chamada de quociente diferencial de Newton. Existem duas fontes de erro nessa expressão, o erro de '''arredondamento''' e o erro de '''truncamento'''. O primeiro é um erro associado à precisão numérica dos computadores, que é finita (o número de casas dos números). | |||
Existem duas fontes de erro nessa expressão, o erro de ''' | Comparando a expressão (2) com a (1), notamos que, quanto menor o valor de <math>\Delta x</math>, o valor estimado numericamente é mais próximo ao valor real. No entanto, numericamente não podemos tomar <math>\Delta x</math> tão pequeno quanto se queira, porque há um limite de precisão numérica. Assim, na região do <math>\Delta x</math> pequeno há o tipo de erro chamado de '''erro de arredondamento'''. | ||
Por exemplo, se o nosso computador hipotético processar uma operação matemática com 4 casas decimais, temos que, para a função <math>f(x) = x^2 </math>, <math> f(0,1) = 0,01</math> e <math> f(0,1001) = 0,01002001</math>. Note que, usando a precisão de nosso computador, <math>f(x) = f(x+\Delta x)</math> no caso em que <math>x = 0,01</math> e <math>\Delta x = 0,001</math>. Com isso, o resultado da derivada numérica seria <math>f\, '(0,1) = 0</math>, o que sabemos não ser verdade, já que podemos calcular essa derivada analiticamente. Isso coloca um limite inferior para o incremento <math>\Delta x</math>, e assim para a precisão da estimativa numérica da derivada. | |||
O segundo tipo de erro podemos dizer que é "intrínseco" ao método numérico. Para estimá-lo, faremos uso da expansão em série de Taylor da função :<math>f'(x)</math> | |||
:<math> | {| style="width: 75%" | ||
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|<math>f(x+\Delta x) = f(x) + f'(x)\Delta x + \frac{1}{2}f''(x)(\Delta x)^2 + \frac{1}{6}f'''(x)(\Delta x)^3 + ...</math> || (Eq. 3) | |||
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manipulando os termos acima, temos: | |||
: | |||
:<math>{f(x+\Delta x)-f(x)\over \Delta x} = f' + \frac{1}{2}f''\Delta x + ... \, ,</math> | |||
e assim | |||
:<math>f' = \underbrace{{f(x+\Delta x)-f(x)\over \Delta x}}_{Quociente\; de\; Newton} - \frac{1}{2}f''\Delta x + ... \, .</math> | |||
Comparando a expressão acima com o método de de derivada à direita , Eq. 2, notamos que a diferença existe a partir do termo <math>\Delta x</math>. Podemos dizer que o erro ao usar a quociente de Newton para calcular a derivada é proporcional à <math>\Delta x</math>. Assim, vemos que o erro cresce ''linearmente'' com <math>\Delta x</math> e portanto devemos usar valores pequenos do incremento. | |||
Resumindo, por um lado temos o '''erro de truncamento''' e pelo outro o de '''arredondamento''', onde o valor ótimo será uma solução de compromisso entre os dois tipos de erro. Vemos então que deve haver um ''intervalo de valores'' dentro do qual o <math>\Delta x</math> deve variar para que a derivada numérica seja a mais próxima do valor real possível. Nas figuras 5 e 6 mostramos um exemplo. | |||
== Derivada à esquerda == | |||
A derivada numérica pode também ser calculada com um incremento a esquerda do <math>x</math> (e também centrado no <math>x</math> como veremos depois). | |||
Em cálculo as três devem coincidir para existir a derivada em <math>x</math>. Existem funções que podem ser contínuas em um ponto, | |||
porém ter derivada diferente a esquerda e direita, por tanto nesses casos a derivada no ponto não está definida. | |||
O exemplo mais simples é <math>|x|</math>, continua e com derivada em todo <math>x \neq 0</math>. Nesse ponto as derivadas a esquerda e direita são diferentes. | |||
== Derivada Centrada == | |||
Outro cálculo numérico da derivada pode ser feito baseado na declividade de '''dois''' pontos próximos, um antes e outro depois do ponto onde queremos avaliar a derivada. | |||
A declividade da linha definida por esses dois pontos é: | |||
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|<math>f'(x)\approx {f(x+\Delta x)-f(x-\Delta x)\over 2\Delta x}</math> || (Eq. 4) | |||
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que é chamada de '''derivada centrada'''. | |||
Podemos mostrar que o erro intrínseco a este método é menor do que o erro associado ao método anterior. Para estimar o erro de truncamento, expandimos <math>f(x) </math> em torno de <math>\Delta x</math> ( feito na Eq(3)) e em torno de <math> -\Delta x</math>: | |||
:<math>f(x-\Delta x) = f(x) + f'(x)(-\Delta x) + \frac{1}{2}f''(x)(-\Delta x)^2 - {1\over 6}f'''(x)(\Delta x)^3 + ...</math> | |||
Somando <math>f(x+\Delta x) </math> dada pela Eq.(3) e os termos de <math>f(x-\Delta x) </math> da expressao acima, notamos que os termos lineares em <math> -\Delta x</math> se cancelam. Isolando <math> f'(x)</math>, temos: | |||
:<math>f'(x) = \underbrace{{f(x+\Delta x)-f(x-\Delta x)\over 2\Delta x}} -{2\over 6}f'''(x)(\Delta x)^2 + ...</math> | |||
Comparando a expressão acima com a definição do método de derivada centrada, Eq. 4, notamos que o erro de truncamento é da ordem de <math>(\Delta x)^2</math>. Para <math>|\Delta x| < 1 </math>, vemos que o erro de truncamento associado ao método de derivada centrada é menor do que o erro para a derivada à direita. | |||
== Medida numérica do Erro associado a cada método == | |||
Para ter uma estimativa do erro associado a utilização da derivada numérica, podemos comparar valores utilizando uma função que tem sua derivada conhecida analiticamente. Assim, o erro é dado por | |||
:<math> erro = {|f'_{an}(x) - f'_{num}(x)| \over |f'_{an}(x)|}, </math> | |||
onde <math>f'_{an}(x)</math> e <math>f'_{num}(x)</math> são as derivada analítica e numérica de <math> f(x) </math>, respectivamente. | |||
Note que, multiplicando o erro por 100, temos a porcentagem de erro que acompanha a derivada numérica. | |||
== Programa == | == Programa == | ||
Implementar a derivada numérica em [[FORTRAN]] é apenas uma linha de código: | Implementar a derivada numérica em [[FORTRAN]] é apenas uma linha de código: | ||
... | ... | ||
Df = (f(x+h) - f(x))/h | Df = (f(x+h) - f(x))/h | ||
... | ... | ||
Onde f(x) deve ser definida num bloco FUNCTION F(x) ... END FUNCTION F. | Onde f(x) deve ser definida num bloco FUNCTION F(x) ... END FUNCTION F. | ||
O resto depende de onde e para que queremos calcular a derivada. | O resto depende de onde e para que queremos calcular a derivada. | ||
== | == Exemplo == | ||
Como demonstração, usaremos a função <math>f(x)</math> dada por | |||
:<math>f(x) = \frac{\sin(x^2) e^{x/3}}{\sqrt{x^2+4}}.</math> | |||
Os gráficos abaixo ilustram os métodos de derivada à direita (figuras 1 e 2) e derivada centrada (figuras 3 e 4), ambos com <math>x=0,6</math> e <math>\Delta x = 0,4</math>. | |||
Primeiramente, a figura 1 mostra a derivada à direita, onde a curva em vermelho representa <math>f(x)</math> e a curva em azul representa a derivada de <math>f(x)</math>. | |||
[[Imagem:derivada3.png|thumb|300px|left|Figura 1 - Derivada à direita]] | |||
A figura 2 mostra um zoom no ponto <math>x</math> com a curva da derivada calculada pelo método descrito acima. Em azul a derivada calculada numericamente, só que agora com um deslocamento em <math>y</math> para passar pelo ponto <math>(f(x),x)</math>. | |||
[[Imagem:derivada4.png|thumb|300px|Figura 2 - Derivada à direita (zoom)]] | |||
O exemplo do método de derivada centrada está representado na figura 3. Em vermelho a curva <math>f(x)</math> e em azul a sua derivada. | |||
[[Imagem: | [[Imagem:derivada1.png|thumb|300px|left|Figura 3 - Derivada centrada]] | ||
A | A figura 4 mostra um zoom com a curva da derivada centrada em <math>x</math>. | ||
O valor exato da derivada | |||
[[Imagem:derivada2.png|thumb|300px|Figura 4 - Derivada centrada (zoom)]] | |||
piorando a partir de <math>\Delta x = 10^{-6}</math>. | |||
Na figura | Além da ilustração dos métodos de derivação numérica, as figuras 5 e 6 mostram o gráfico do valor retornado pelo método da derivação à direita em função do incremento <math>\Delta x</math> utilizado. | ||
<math>\Delta x = 8x10^{-5}</math> parece ser o ótimo. | |||
'''NOTA:''' os programa FORTRAN usado para o calculo da derivada esta em Real (ou Real*4, ou | [[Imagem:der.png|thumb|300px|left|Figura 5 - Erros de truncamento e precisão]] | ||
seja ponto flutuante em representação de 32 bits). | |||
Como seria em dupla precisão (Real*8)? | [[Imagem:der_zoom.png|thumb|300px|Figura 6 - Erros de truncamento e precisão (zoom)]] | ||
Na figura 5, a derivada numérica em x=3 em função do <math>\Delta x</math> utilizado. O valor exato da derivada é <math>f'(3)=-4.08963</math>. Diminuindo o valor do incremento, vemos que em volta de <math>\Delta x = 0.01</math> a derivada começa a convergir, piorando a partir de <math>\Delta x = 10^{-6}</math>. Para valores muito pequenos temos o erro de arredondamento e para valores muito alto temos o erro de truncamento. | |||
Na figura 6 vemos ampliada a região de convergência, onde o valor de <math>\Delta x = 8x10^{-5}</math> parece ser o ótimo. | |||
'''NOTA:''' os programa FORTRAN usado para o calculo da derivada esta em Real (ou Real*4, ou seja ponto flutuante em representação de 32 bits). Como seria em dupla precisão (Real*8)? | |||
== Links Externos== | == Links Externos== | ||
*[http://www.sitmo.com/eqcat/12 Numerical Differentiation] Quant Equation Archive, sitmo | *[http://www.sitmo.com/eqcat/12 Numerical Differentiation] Quant Equation Archive, sitmo | ||
* http://mathworld.wolfram.com/NumericalDifferentiation.html | * http://mathworld.wolfram.com/NumericalDifferentiation.html | ||
* http://math.fullerton.edu/mathews/n2003/NumericalDiffMod.html | * http://math.fullerton.edu/mathews/n2003/NumericalDiffMod.html |
Edição atual tal como às 10h13min de 7 de outubro de 2015
A derivada de uma função é definida como um processo de limite, o qual é matematicamente descrito por:
(Eq. 1) |
Numericamente é impossível tomarmos o limite ; temos necessariamente que trabalhar com um valor de finito. Portanto, a todo cálculo numérico de uma derivada será associado um erro numérico. Abaixo veremos dois métodos numéricos para calcular derivadas e estimaremos os erros associados a tais métodos.
Derivada à direita
Este método se baseia na definição formal de derivada. Para um dado valor de incremento , definimos a derivada numérica (a direita) como:
(Eq. 2) |
A expressão a direita é chamada de quociente diferencial de Newton. Existem duas fontes de erro nessa expressão, o erro de arredondamento e o erro de truncamento. O primeiro é um erro associado à precisão numérica dos computadores, que é finita (o número de casas dos números). Comparando a expressão (2) com a (1), notamos que, quanto menor o valor de , o valor estimado numericamente é mais próximo ao valor real. No entanto, numericamente não podemos tomar tão pequeno quanto se queira, porque há um limite de precisão numérica. Assim, na região do pequeno há o tipo de erro chamado de erro de arredondamento.
Por exemplo, se o nosso computador hipotético processar uma operação matemática com 4 casas decimais, temos que, para a função , e . Note que, usando a precisão de nosso computador, no caso em que e . Com isso, o resultado da derivada numérica seria , o que sabemos não ser verdade, já que podemos calcular essa derivada analiticamente. Isso coloca um limite inferior para o incremento , e assim para a precisão da estimativa numérica da derivada.
O segundo tipo de erro podemos dizer que é "intrínseco" ao método numérico. Para estimá-lo, faremos uso da expansão em série de Taylor da função :
(Eq. 3) |
manipulando os termos acima, temos:
e assim
Comparando a expressão acima com o método de de derivada à direita , Eq. 2, notamos que a diferença existe a partir do termo . Podemos dizer que o erro ao usar a quociente de Newton para calcular a derivada é proporcional à . Assim, vemos que o erro cresce linearmente com e portanto devemos usar valores pequenos do incremento.
Resumindo, por um lado temos o erro de truncamento e pelo outro o de arredondamento, onde o valor ótimo será uma solução de compromisso entre os dois tipos de erro. Vemos então que deve haver um intervalo de valores dentro do qual o deve variar para que a derivada numérica seja a mais próxima do valor real possível. Nas figuras 5 e 6 mostramos um exemplo.
Derivada à esquerda
A derivada numérica pode também ser calculada com um incremento a esquerda do (e também centrado no como veremos depois). Em cálculo as três devem coincidir para existir a derivada em . Existem funções que podem ser contínuas em um ponto, porém ter derivada diferente a esquerda e direita, por tanto nesses casos a derivada no ponto não está definida. O exemplo mais simples é , continua e com derivada em todo . Nesse ponto as derivadas a esquerda e direita são diferentes.
Derivada Centrada
Outro cálculo numérico da derivada pode ser feito baseado na declividade de dois pontos próximos, um antes e outro depois do ponto onde queremos avaliar a derivada.
A declividade da linha definida por esses dois pontos é:
(Eq. 4) |
que é chamada de derivada centrada.
Podemos mostrar que o erro intrínseco a este método é menor do que o erro associado ao método anterior. Para estimar o erro de truncamento, expandimos em torno de ( feito na Eq(3)) e em torno de :
Somando dada pela Eq.(3) e os termos de da expressao acima, notamos que os termos lineares em se cancelam. Isolando , temos:
Comparando a expressão acima com a definição do método de derivada centrada, Eq. 4, notamos que o erro de truncamento é da ordem de . Para , vemos que o erro de truncamento associado ao método de derivada centrada é menor do que o erro para a derivada à direita.
Medida numérica do Erro associado a cada método
Para ter uma estimativa do erro associado a utilização da derivada numérica, podemos comparar valores utilizando uma função que tem sua derivada conhecida analiticamente. Assim, o erro é dado por
onde e são as derivada analítica e numérica de , respectivamente.
Note que, multiplicando o erro por 100, temos a porcentagem de erro que acompanha a derivada numérica.
Programa
Implementar a derivada numérica em FORTRAN é apenas uma linha de código:
...
Df = (f(x+h) - f(x))/h
...
Onde f(x) deve ser definida num bloco FUNCTION F(x) ... END FUNCTION F.
O resto depende de onde e para que queremos calcular a derivada.
Exemplo
Como demonstração, usaremos a função dada por
Os gráficos abaixo ilustram os métodos de derivada à direita (figuras 1 e 2) e derivada centrada (figuras 3 e 4), ambos com e .
Primeiramente, a figura 1 mostra a derivada à direita, onde a curva em vermelho representa e a curva em azul representa a derivada de .
A figura 2 mostra um zoom no ponto com a curva da derivada calculada pelo método descrito acima. Em azul a derivada calculada numericamente, só que agora com um deslocamento em para passar pelo ponto .
O exemplo do método de derivada centrada está representado na figura 3. Em vermelho a curva e em azul a sua derivada.
A figura 4 mostra um zoom com a curva da derivada centrada em .
Além da ilustração dos métodos de derivação numérica, as figuras 5 e 6 mostram o gráfico do valor retornado pelo método da derivação à direita em função do incremento utilizado.
Na figura 5, a derivada numérica em x=3 em função do utilizado. O valor exato da derivada é . Diminuindo o valor do incremento, vemos que em volta de a derivada começa a convergir, piorando a partir de . Para valores muito pequenos temos o erro de arredondamento e para valores muito alto temos o erro de truncamento.
Na figura 6 vemos ampliada a região de convergência, onde o valor de parece ser o ótimo.
NOTA: os programa FORTRAN usado para o calculo da derivada esta em Real (ou Real*4, ou seja ponto flutuante em representação de 32 bits). Como seria em dupla precisão (Real*8)?